Final do Ano – reflexões e conclusões

Final do Ano – reflexões e conclusões

Esta é a semana de Natal, e a próxima é a do Ano Novo. Menos pessoas lerão este artigo, mas para com aquelas que o lerem, eu quero ser coerente. Não vou desejar bom Natal e feliz Ano Novo, e sim boas reflexões e felizes conclusões. Pois…
 
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
 
Está claro que a liturgia das festas de final de ano afastou-se do caráter religioso e ganhou o mercado. Saiu São Nicolau e entrou Papai Noel. Do primeiro esperávamos mensagens, do segundo, eletrônicos. Assim é.
 
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
 
Todos merecemos a trégua do final de ano. Os compromissos são menores, ou pelo menos, não tão exigentes, e nós temos, então, tempo. Tempo para que? Para o stress das compras, dos preparativos das festas, das reuniões familiares, às vezes emocionadas, às vezes fingidas. Dizer o quê?
 
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
 
Mas um mérito as festas de fim de ano têm: nos fazem refletir. Pensamos sobre o ano que terminou, sobre o tempo que aproveitamos ou que desperdiçamos, sobre o que faremos com o próximo que vem aí, novinho em folha. E é claro, aproveitamos para rever nossos valores. Para que viemos? Para que servimos? Para que fomos feitos, afinal?
 
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
 
Nascemos, imensamente e constantemente. Somos diferentes a cada instante, e temos a chance de escolher uma diferença melhor ou pior. Questão de opção! Da morte de uma velha opinião formada, nasce uma nova visão, como numa metamorfose, ambulante, pois assim somos. Eu pedi emprestado ao Vinicius de Moraes seu “Poema de Natal” para, como sempre, provocar a reflexão de meus leitores e sair do lugar comum. Mas, contrariando o primeiro parágrafo, pois eu também mudo de idéia, não consigo resistir: Feliz Natal e excelente Ano Novo para todos!
 
Texto publicado sob licença da revista Você s/a, Editora Abril.
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